segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Centelhas - Hyatt Bass

Trata-se de um livro interessantíssimo sobre coisas invulgares que acontecem em todas as famílias vulgares.
Os Ascher eram uma família feliz da classe média/alta norte-americana; Joe é dramaturgo, numa carreira com altos e baixos onde as alegrias não compensavam as tristezas mas que lhe permitiam uma vida desafogada; Laura é actriz e mãe de família dedicada; Emily é uma adolescente rebelde que vive de forma intensa os dramas familiares; mas o mundo dos Archers desaba quando Thomas morre com apenas dezassete anos.
No entanto, a morte do jovem não é o único drama. Tudo se desenrola como se este acontecimento trágico trouxesse à superfície outros dramas, entretanto calados, escondidos sob a capa vulgar de um quotidiano apressado e muitas vezes fútil.
Neste ambiente sobressai a apurada capacidade de Bass para pintar um quadro perfeito do perfil psicológico dos personagens. Na minha opinião de leitor destaca-se a figura der Joe, o chefe de família.
Joe é um homem amargurado, pelo remorso, pela culpa que o avassala no que respeita à morte de Thomas mas, ainda mais, pela sua personalidade egocêntrica e muitas vezes demasiado atenta à futilidade e ao materialismo. O drama de Joe é este: eu conheço os meus defeitos e limitações, no entanto não consigo ultrapassá-los e, pior ainda, gosto de ser assim. Dessa forma, a mente conturbada de Joe navega entre o que é, o que foi e o que gostava de ter sido.
O estilo é simples, directo, sem subterfúgios nem figuras de estilo desnecessárias, pelo que se lê com agrado e a bom ritmo. Enfim, uma boa surpresa.
 Manuel Cardoso

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